A mulher pensou que assim estava bem. Afinal ter um sonho de menina não é coisa de todos os dias. E este parecia-lhe demasiado complicado de concretizar.
Programou uma grande viagem e partiu. Encontrou cheiros e cores e sabores diferentes, gente calorosa. Ouviu histórias de pasmar e deixou-se embalar pelas noites mornas. Experimentou um homem ocasional. Soube-lhe bem! Mas não conseguiu esquecer os olhos escuros, profundos e tristes de F, a sua boca rubra de cereja e o seu corpo curvado pelo calor.
Em Setembro F entrou-lhe de novo no escritório. Vinha mais solto, mais conversador. Desempenhava agora um trabalho que o deixava mais comunicativo. A mulher tentou uma aproximação discreta e percebeu que lhe era fácil estabelecer solidariedades. F estava diferente. Talvez mais feliz. Parecia sentir-se em liberdade e disposto a experimentar as novas cores do fim de Setembro. Gostava do que fazia, empenhava-se, e isso notava-se tanto que começou a doer estar a seu lado.
A mulher sentiu um desejo avassalador por aquele ser. Queria tudo de rompante, o corpo, a alma, o sono, os devaneios....de tal modo que adoeceu de desejo.
Começou a chegar tarde ou a faltar ao trabalho, arranjou desculpas para ficar horas estirada na cama a imaginar ou a sonhar como seria possuir F, entrar na sua vida e cumprir o sonho de menina.
(A esta hora caros leitores perguntar-se-ão porque diabo não o comeu em três tempos e resolveu o problema existencial da solidão).
É que aquela mulher, afinal, era mais tímida do que alguém poderia imaginar. Ela pressentia, também, que F não era fácil e que o que tanto a atraía poderia afinal ser algo de muito complicado. Assim preferiu esperar, refugiar-se no sonho e viver meses com a alegria infantil de poder vê-lo às quartas-feiras.
Esses dias eram preparados com minúcia!
Levantava-se bem disposta, vestia o seu melhor vestido, penteava-se com prazer, mirava-se no espelho e gostava do que via. Afinal não tinha razão para estar triste.
Era quarta-feira! O dia dos encontros não marcados.
E eram belos esses dias!
Ás vezes, com a pressa e o trabalho, só o via passar, o passo lento, qual gato rondando o ninho.
E eram belos esses dias!
Ás vezes trocavam palavras de ocasião para resolver assuntos inexistentes.
E eram belos esses dias!
E assim passou o Outono...
Um dia, no início do Inverno, a mulher tomou coragem e convidou-o para sair. Ele aceitou e disse-lhe. "Para si estarei sempre disponível".
Viajaram juntos pela primeira vez. F guiou a mulher por montes e vales e quando ela, esgotada de emoção, parava ou se sentava sobre uma pedra ele também parava. Sentava-se atrás dela, como se a guardasse, com a distancia dos antigos servos medievais ou do pastor que controla as suas crias. Ela sentia-lhe a respiração, o cheiro e os olhos cravados nas costas e pensava nele como um lobo solitário.
20 de Agosto, 21h
Programou uma grande viagem e partiu. Encontrou cheiros e cores e sabores diferentes, gente calorosa. Ouviu histórias de pasmar e deixou-se embalar pelas noites mornas. Experimentou um homem ocasional. Soube-lhe bem! Mas não conseguiu esquecer os olhos escuros, profundos e tristes de F, a sua boca rubra de cereja e o seu corpo curvado pelo calor.
Em Setembro F entrou-lhe de novo no escritório. Vinha mais solto, mais conversador. Desempenhava agora um trabalho que o deixava mais comunicativo. A mulher tentou uma aproximação discreta e percebeu que lhe era fácil estabelecer solidariedades. F estava diferente. Talvez mais feliz. Parecia sentir-se em liberdade e disposto a experimentar as novas cores do fim de Setembro. Gostava do que fazia, empenhava-se, e isso notava-se tanto que começou a doer estar a seu lado.
A mulher sentiu um desejo avassalador por aquele ser. Queria tudo de rompante, o corpo, a alma, o sono, os devaneios....de tal modo que adoeceu de desejo.
Começou a chegar tarde ou a faltar ao trabalho, arranjou desculpas para ficar horas estirada na cama a imaginar ou a sonhar como seria possuir F, entrar na sua vida e cumprir o sonho de menina.
(A esta hora caros leitores perguntar-se-ão porque diabo não o comeu em três tempos e resolveu o problema existencial da solidão).
É que aquela mulher, afinal, era mais tímida do que alguém poderia imaginar. Ela pressentia, também, que F não era fácil e que o que tanto a atraía poderia afinal ser algo de muito complicado. Assim preferiu esperar, refugiar-se no sonho e viver meses com a alegria infantil de poder vê-lo às quartas-feiras.
Esses dias eram preparados com minúcia!
Levantava-se bem disposta, vestia o seu melhor vestido, penteava-se com prazer, mirava-se no espelho e gostava do que via. Afinal não tinha razão para estar triste.
Era quarta-feira! O dia dos encontros não marcados.
E eram belos esses dias!
Ás vezes, com a pressa e o trabalho, só o via passar, o passo lento, qual gato rondando o ninho.
E eram belos esses dias!
Ás vezes trocavam palavras de ocasião para resolver assuntos inexistentes.
E eram belos esses dias!
E assim passou o Outono...
Um dia, no início do Inverno, a mulher tomou coragem e convidou-o para sair. Ele aceitou e disse-lhe. "Para si estarei sempre disponível".
Viajaram juntos pela primeira vez. F guiou a mulher por montes e vales e quando ela, esgotada de emoção, parava ou se sentava sobre uma pedra ele também parava. Sentava-se atrás dela, como se a guardasse, com a distancia dos antigos servos medievais ou do pastor que controla as suas crias. Ela sentia-lhe a respiração, o cheiro e os olhos cravados nas costas e pensava nele como um lobo solitário.
20 de Agosto, 21h
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